Juro desafia 'parcimônia' do BC
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Foto: rota2014.blogspot.com
Investidores do mercado futuro de juros da BM&F foram obrigados ontem a desmontar parte das operações que traziam implícita a certeza de que o Copom do Banco Central não teria condições de exercer a prometida “parcimônia” monetária no início de 2015.
Os juros decolaram nos dois primeiros dias da semana e se mantiveram elevados na quarta-feira por causa do teatro de guerra armado na BM&F: o dólar decolaria como efeito secundário da crise cambial russa e do endurecimento do jogo monetário pelo Federal Reserve (Fed).
Não aconteceu nem uma coisa, nem outra. A corrida contra o rublo se restringiu à terça-feira e, na quarta, um Fed conciliador surpreendeu os mercados pelo seu excesso de benevolência. O jeito foi reverter posições altistas. Mas nem todas.
Os especuladores foram agraciados com um cenário perfeito para a deflagração de um ataque à Rússia: foi desfechado na véspera da última reunião do ano do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed, para a qual se previa uma mudança drástica de comunicado, para uma postura bem mais “hawkish”, e um dia depois de um choque de juros de 6,5 pontos percentuais que revelava certo desespero das autoridades russas. No dia seguinte de manhã, Moscou já tinha controlado o incêndio por meio de uma generosa irrigação de liquidez e, à tarde, o Fomc vestiu a roupa de Papai Noel e antecipou a entrega do presente aos emergentes.
O dólar caiu ontem no mundo inteiro. Ante o real, a moeda desvalorizou-se 1,73%, cotada a R$ 2,6550. Voltou ao preço de sexta-feira, antes das turbulências russas. Se essa tendência se mantiver, o Banco Central poderá diminuir as baterias de leilões de linhas de crédito em dólar com compromisso de recompra.
Para dar liquidez a quem precisava de moeda física, nos dois últimos dias fez quatro leilões de linhas, no valor total de US$ 4 bilhões. As reservas permanecem intocadas, já que os dólares que saem por meio dessas operações irão retornar quando da liquidação.
A rigor, o Fomc não foi magnânimo. A demonstração de uma cautela para muitos excessiva — manifesta na convivência amistosa, num mesmo comunicado, de dois “guidances” diferentes, o “tempo considerável” e o “ser paciente” — desnuda a sua preocupação com a possibilidade de instalação de uma assimetria monetária danosa ao crescimento mundial.
O Fed não pode praticar uma política de juros austera quando a maior parte dos seus parceiros desenvolvidos estuda ampliar os seus afrouxamentos quantitativos. Os EUA não agiriam somente para não solapar as chances de recuperação da Europa e da Ásia.
Na verdade, a retomada dos EUA poderia ser gravemente afetada por uma elevação precipitada do juro interno que desencadeasse uma onda global de aperto monetário. Mais que isso, se o Fed sinalizasse um rigor monetário poderia afundar ainda mais a cotação do petróleo.
Faria o jogo da Opep, interessada em eliminar a concorrência do óleo de xisto. Foi o Fed abrandar o seu discurso para o petróleo entrar num canal menos agitado. Antes da reunião do Fomc, o barril estava propenso a testar seriamente o patamar de US$ 55. Agora, já consegue enfrentar os US$ 60.
O statement do Fomc pisa em ovos: se tudo correr bem com a economia americana, no final de 2015 a taxa básica de juros, hoje entre zero e 0,25%, poderá estar próxima de 1%.
Trata-se de um “aperto” que não assusta os especialistas em “carry trade”, a operação que consiste em tomar empréstimos em moeda de país que pratica um juro muito baixo ou negativo e aplicar em emergente com remunerações generosas.
O apetite pelo risco voltou aos mercados. Investidores passaram a vender títulos do Tesouro americano e a migrar para os emergentes. O movimento de saída das “treasuries” fez o rendimento do título de 10 anos subir ontem de 2,14% para 2,22%. Antes do Fed, chegou ao piso de 2,05%.
A impressão de que o Fomc poderia descongelar as “fed funds rate” já na sua reunião de 29 de abril — fomentada pela afirmação de Janet Yellen de que com certeza nada seria feito nos dois primeiros encontros de 2015, os de 28 de janeiro e 18 de março — logo se desvaneceu.
A alta deve ficar para uma das cinco reuniões finais de 2015. A de 17 de junho parece indicada porque, nela, haverá todo o cerimonial de revelação das projeções econômicas do Fed e coletiva à imprensa de Yellen. Mas pode ficar para depois. Depende dos indicadores. E continuam vindo mistos. Ontem os dois mais importantes do dia não chegaram a um acordo.
O número de novos pedidos de seguro-desemprego caiu em 6 mil na semana passada, para 289 mil, quando os analistas previam 295 mil. Já o PMI do setor de serviços veio mais fraco. Recuou de 56,2 pontos em novembro para 53,6 agora.
Apesar de tudo, os “comprados” em taxa não desmancharam todas as suas posições no pregão de juros futuros da BM&F. Os contratos ainda embutem prêmios expressivos por causa da aposta de que o Copom não poderá seguir o caminho da parcimônia em sua primeira reunião de 2015, agendada para 21 de janeiro, já que o IPCA no acumulado de 12 meses irá nos dois primeiros meses do ano transitar na faixa entre 6,9% e 7%.
Como o BC poderia diminuir a velocidade de alta da taxa Selic do 0,50 ponto praticado em dezembro para 0,25 ponto em janeiro se o IPCA dará um salto de 6,4% para 6,9%? Os investidores raciocinam que, para reduzir o passo do juro ou mesmo interromper a trajetória ascendente, o dólar teria de retornar aos R$ 2,50 do começo de novembro. Nem o Fed brando conseguiria esse milagre.
As taxas dos DIs cederam ontem, seria inevitável, mas permanecem ainda bem acima do nível definido no dia 4, o primeiro pregão depois de o Copom ter exibido sua predisposição “dovish”. A taxa para janeiro de 2016 recuou ontem de 12,94% para 12,91%, ante 12,42% no dia 4.
O contrato para janeiro de 2017 caiu de 13,01% para 12,93% (12,29% no pós-Copom). E o com vencimento em janeiro de 2021 passou de 12,58% para 12,46% (11,97%).
O ceticismo de tesoureiros e gestores com a política monetária do BC e a influência desinflacionaria da disciplina fiscal que será implantada por Joaquim Levy pode ser metido pelo fato de que a curva de juros está inclinada positivamente até o início de 2018. Os contratos só começam a cair no último ano do segundo mandato de Dilma Rousseff.
Brasil Econômico/JE
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