Sexta-Feira 26/04/2024 02:42

Cuidado, o Tesouro Direto pode ser seu pior investimento

Brasil - Investimento - Vantagens e Desvantagens

Foto: Thinkstock

Os títulos públicos, negociados pelo site Tesouro Direto, têm algumas boas vantagens: aceitam investimentos baixíssimos (a partir de 30 reais), seu risco de crédito é o risco de o governo quebrar, e eles têm oferecido remunerações interessantes, que ficaram ainda mais atraentes com a elevação da taxa básica de juros, Selic, para 14,25% ao ano.

Mas, eles podem ser o pior investimento de todos os tempos se você não souber como eles funcionam.

Os títulos se diferenciam pelo seu tipo de remuneração. Enquanto alguns são prefixados, ou seja, pagam uma taxa de juro que é definida no momento da aplicação, outros são pós-fixados, o que significa seu valor é corrigido por um indexador, como a taxa Selic e o IPCA.

O grande perigo está nos títulos prefixados, que podem levar o investidor a perder dinheiro, sobretudo em cenários como o atual, de tendência de alta da taxa Selic e de incertezas no quadro econômico.

Ainda que o investimento em ações também possa gerar prejuízo, a grande armadilha dos títulos públicos é que eles são investimentos de renda fixa, o que leva muitas pessoas a interpretarem que eles são livres de risco. Além disso, entender seus riscos não é nada simples, o que pode deixar o investidor ainda mais desprevenido e tornar o estrago ainda maior.

Por que os títulos podem gerar prejuízos

Em primeiro lugar, vale ressaltar que existem quatro títulos com taxas prefixadas à venda atualmente. Dois deles são puramente prefixados: o Tesouro Prefixado (LTN) e o Tesouro Prefixado com Juros Semestrais (NTN-F). Ambos pagam ao investidor uma taxa de juro que é definida na hora da compra, mas enquanto o primeiro acumula os rendimentos para o vencimento, o segundo paga juros semestrais.

Os outros dois são pré e pós-fixados: o Tesouro IPCA+ (NTN-B Principal) e o Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais (NTN-B). Eles pagam ao investidor uma taxa de juro definida na compra, mais a variação do IPCA no período do investimento, com a diferença de que no primeiro título os juros são acumulados para o vencimento e no segundo são distribuídos a cada seis meses.

“O Tesouro IPCA+ é um título híbrido, é como se pegasse um pedacinho do Tesouro Prefixado, a parte equivalente ao juro real, e adicionasse o IPCA. Muitos investidores, porém, acham que o título só acompanha a inflação e se esquecem da taxa prefixada, que torna o título muito mais arriscado”, diz Alfredo Cunha, gestor de investimentos da Longea Capital.

A rentabilidade informada no momento da compra dos quatro títulos é garantida se o investidor mantê-los até o seu vencimento. No entanto, eles podem gerar prejuízos se forem vendidos antes do prazo porque sofrem o efeito da chamada marcação a mercado.

Ao aplicar no Tesouro Prefixado, o valor resgatado no vencimento será sempre 1 000 reais. Esse é o chamado valor de face do título. O que muda é o preço que você paga pelo título hoje, como reflexo da taxa de juros definida na hora da compra. O Tesouro IPCA também tem um valor de face de 1 000 reais, mas no vencimento é somado a esse valor o IPCA acumulado no período.

Dependendo do preço que o investidor paga, a taxa pode ser maior ou menor para que o título chegue aos 1 000 reais no final do prazo. Se forem pagos 700 reais pelo título, a taxa de juro terá de ser maior do que se fossem pagos 800 reais, porque em ambos os casos a taxa prefixada deve corrigir o preço do título de forma ele chegue a 1 000 reais no vencimento.

Assim, como o recebimento no futuro é fixo (sempre 1 000 reais), quanto mais barato é o valor no momento da compra, mais o investidor ganhará e maior será sua rentabilidade. Por outro lado, quanto maior o valor pago no momento da compra, menor o ganho, e a rentabilidade.

Para que a remuneração do título fique em linha com a expectativa da taxa Selic - que é usada como referência para o retorno oferecido por diversos investimentos no mercado – tornando-o atraente para investidores, as taxas dos títulos sofrem alterações.

Ou seja, se a Selic está aos 14,25% ao ano, os títulos precisam oferecer algo nessa linha para justificarem o investimento. No entanto, como o valor do título no vencimento deve ser sempre 1 000 reais, para chegar a esse valor com uma taxa anual em linha com a Selic, o preço de compra dos títulos oscila.

Aí é que mora o perigo. Se um investidor comprou um título com uma taxa de 12% ao ano e quer vender esse título antes do vencimento, caso existam novos títulos no mercado que pagam 14% ao ano, por exemplo, ele só conseguirá vender seu título com desconto. Pronto, está realizado o prejuízo, caso o título seja vendido antes do prazo.

Nada muito distante do que vemos no nosso dia a dia

“Costumo fazer a seguinte analogia: Uma montadora vende um carro 1.0 por 30 mil reais e daqui a um mês apresenta o mesmo carro, com o mesmo valor, mas com uma motorização 1.4. Quem comprou o carro 1.0 precisará reduzir o seu preço para conseguir vendê-lo. O mesmo acontece com o título prefixado”, exemplifica Filipe Villegas, analista-gráfico e planejador financeiro da corretora Alpes/WinTrade.

Com a taxa Selic em alta, é como se os investidores tivessem comprado carros 1.0 nos últimos anos e fossem surgindo carros 2.0 pelo mesmo preço, conforme a taxa Selic é elevada (ou a expectativa da taxa, como será visto a seguir). Assim, quem comprou o carro antes acaba tendo prejuízo.

O contrário ocorreria, contudo, se houvesse uma tendência de queda da taxa Selic. Nesse caso, é como se os investidores tivessem comprado carros 2.0 e no momento seguinte passassem a ser vendidos carros 1.0 pelo mesmo valor. Isso abriria uma brecha para que os proprietários dos carros 2.0 vendessem seus veículos por valores superiores aos dos novos carros 1.0.

Assim como no exemplo os preços dos carros são alterados de acordo com as mudanças que acontecem no mercado, os preços dos títulos também são modificados diariamente de acordo com as mudanças nas expectativas da taxa de juros. Essa precificação diária dos títulos é que é chamada de marcação a mercado.

Riscos da elevação da taxa Selic

Conforme explicado, as taxas dos títulos variam de acordo com os juros básicos da economia, que são a principal referência para a formação dos "preços" dos investimentos. 

Porém, existe uma pegadinha nisso. A taxa Selic que ouvimos falar nos noticiários, que subiu para 14,25% ao ano, é uma meta que o governo coloca para a taxa que ele quer que seja praticada no momento em diversas operações de crédito do mercado, para aquecer ou esfriar a demanda e assim controlar a inflação - ou tentar, ao menos.

No entanto, os títulos têm vencimentos longos, que vão de 2018 até 2050. Assim, as taxas que eles pagam são definidas não apenas de acordo com a Selic meta, mas sim a partir da expectativa de como a Selic deve se comportar ao longo de todo o período do investimento.

Vale lembrar que hoje a taxa está em 14,25% ao ano, mas em 2012, por exemplo, chegou aos 7,25% ao ano.

O mercado observa a Selic não só agora, portanto, mas suas expectativas para o futuro para que o título tenha uma taxa a par com o mercado não só no presente, como durante todo o período de sua existência, digamos assim. 

Portanto, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) anuncia mudanças na meta da taxa Selic, o mercado de certa forma já incorporou essa elevação às taxas dos títulos.

“As taxas já incorporam a expectativa de que o Copom eleve a Selic a 14,50% até o fim do ano, por exemplo. O anúncio do Copom só gera alta oscilação nos títulos se o aumento da taxa for maior ou menor do que o esperado porque nesse caso essa taxa não estava precificada nos títulos”, afirma Amerson Magalhães, diretor da Easynvest.

Assim, quando a elevação da Selic ocorre conforme o esperado, o anúncio do Copom não muda tanto a regra do jogo, o que muda a regra do jogo são as expectativas de mudanças dos juros no futuro, que não se modificam somente pelo anúncio do Copom, mas sim por acontecimentos importantes da economia.

"Quando o Eduardo Cunha anunciou o rompimento com o governo, intensificando a crise política, a taxa de juros disparou. Então, se eu tinha comprado um Tesouro IPCA+ no começo de junho com uma taxa de 6%, com a crise outro investidor pode ter comprado o mesmo título com uma taxa de 6,8%, então meu papel passou por um ajuste e eu posso ter prejuízo se vendê-lo agora”, diz Alfredo Cunha.

De maneira bem simplista, é possível dizer que os juros futuros sobem diante de crises políticas porque os juros básicos são como um termômetro do risco do país, assim, quando a confusão se instaura, o risco do país aumenta e a taxa sobe. Para deixar mais claro, basta dizer que a taxa básica de juro dos Estados Unidos é próxima a zero, enquanto os juros no Brasil estão em 14,25% ao ano.

É possível ignorar tudo isso e ainda assim surfar na alta dos juros

Ainda que os títulos prefixados sejam uma opção para aproveitar a alta dos juros, como eles oscilam bastante, esse não é o melhor investimento para alguém que não tem certeza absoluta de que não precisará resgatar seu título antes do vencimento.

Mas, a boa notícia é que é possível aproveitar a alta dos juros com outro título, o Tesouro Selic, que não apresenta risco de prejuízos caso seja vendido antes do vencimento.

Como o Tesouro Selic acompanha a variação diária da taxa Selic, se o investidor quiser vendê-lo antes do vencimento, o título não fica mais ou menos vantajoso em relação a outros títulos do mercado, afinal todos os Tesouros Selics pagam a variação da taxa básica.

É diferente dos títulos prefixados, já que o investidor pode ter em mãos um título com uma taxa menor do que a oferecida nos novos títulos à venda.

Conforme afirma Filipe Villegas, o título prefixado pode ser interessante para o investidor mais agressivo, que acredita que os juros chegaram ao topo, afinal se a Selic passar a cair dali pra frente, seu título terá uma taxa extremamente vantajosa. “O problema é saber qual é o topo. Se o título for comprado e a taxa de juro cair ele terá um ótimo rendimento, mas se a taxa ainda subir ele pode ter prejuízo”, diz.

Mesmo com um funcionamento muito menos complexo e com risco bem mais baixo que os títulos prefixados, o Tesouro Selic tem oferecido remunerações mais interessantes que os outros títulos, conforme mostra o gráfico abaixo, elaborado por Alfredo Cunha, da Longea Capital.

O gestor da Longea Capital afirma que os investidores individuais costumam preferir o Tesouro Selic, justamente pelo menor risco, e poucos optam pelo Tesouro Prefixado, pelo motivo contrário. Mas, ele afirma que alguns investidores conservadores aplicam no Tesouro IPCA para a aposentadoria porque acreditam que vão mantê-lo até o vencimento e não terão problema com os riscos de mercado. 

“O Tesouro IPCA+ protege da inflação em cenários econômicos favoráveis e caso seja levado até o vencimento. O grande perigo é que esses títulos têm prazos muito longos e é difícil ter certeza de que durante todo esse período o investidor não precisará dos recursos. Muitos acabam resgatando o título no meio do caminho e têm prejuízo”, diz o gestor da Longea Capital.

Ainda que seja comum especialistas recomendarem o Tesouro IPCA para investimentos de longo prazo, é importante avaliar bem seu risco. Caso o investidor possua outras aplicações que possam ser resgatadas em um momento de emergência, de fato pode valer a pena investir no Tesouro IPCA, afinal o título sempre garante um ganho acima da inflação, protegendo o poder de compra do investidor.

Mas, se não houver outras aplicações de menor risco às quais recorrer, e o investidor concentrar seus recursos em títulos prefixados, ele deve ter em mente que seu prejuízo pode ser grande se houver algum obstáculo no meio do caminho e for necessário antecipar os planos de resgate.

Na dúvida, quem quiser aproveitar os juros altos pode ficar no Tesouro Selic ou optar por outras aplicações conservadoras que acompanham a taxa básica, mas não tiram o sono.

Priscila Yazbek/Exame/JE

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