A economia da troca de favores (parte I)
Brasil - Opinião - Uma Realidade
Por Agnaldo Holanda*
“Uma mão lava a outra”, “É dando que se recebe”. Provérbios tão conhecidos, que encerram tanta sabedoria de vida: neste mundo, não se deve ser egoísta; há de se pensar no próximo, nutrir a empatia; hoje ajudamos, amanhã somos ajudados; somos recompensados pelos nossos bons atos. Até aí, tudo bem, não é mesmo? Mas leitor, leitora, estive eu de prosa outro dia com meu amigo Tertuliano, um filósofo amador que qualquer hora dessas lhes apresento melhor, e esmiuçamos juntos a “Economia das trocas de favores”, da qual vou resumir aqui só alguns aspectos, por questão de espaço.
Funciona assim, e sobretudo aqui na nossa região interiorana, onde todo mundo conhece todo mundo e a todo instante as pessoas se deparam com conhecidos: as pessoas a tudo querem agregar um “favor”, para ter como cobrá-lo mais tarde. O favor vira a principal moeda de troca, um elemento simbólico mas de alto valor, na vida e no cotidiano em que esse sistema está implantado. Melhor ilustrar com exemplos:
(a) Você recebe um panfleto de uma loja, anunciando um produto, digamos, por preço promocional de R$ 500. Você quer comprar aquele produto. Tem o dinheiro ou o crédito no cartão, disponível. Está no primeiro dia do prazo de 20 dias de promoção que a loja anunciou. Então, claro, você vai até a loja, para comprar o produto, é o seu direito, líquido e certo e simples e inegável. A loja é de uma empresa séria, que não fica anunciando produtos que não têm, com o intuito de atrair clientes.
– Olha, infelizmente já não temos mais em estoque esse produto – é o que lhe diz a vendedora, com semblante plácido. – Mas eu vou fazer o seguinte, pra ver se consigo te ajudar, vou ligar em outra unidade nossa e verificar se eles ainda têm alguma unidade, para enviar pra cá – é o que ela acrescenta.
(b) Você vai até um órgão público em que há uma enorme placa na entrada indicando “Horário de funcionamento: das 13h às 18h”. São 17h40, portanto, faltando 20 minutos para o expediente encerrar. Não há uma viva alma ali, aguardando atendimento, além de você, e a sua demanda não gasta mais de 10 minutos do tempo de um funcionário público, entre as 7 ou 8 almas que estão ali ajeitando o paletó nas cadeiras. Mas aí vem um deles te dizer assim:
– Bom, nós já estamos praticamente fechando... Mas eu vou quebrar o seu galho, pra você não ter de voltar aqui amanhã, já que você mora tão longe, tá?
Nesse sistema, todo mundo gosta de estar “com crédito” com todo mundo, para cobrar no momento certo.
Veja bem, leitor e leitora... Você mesmo talvez, de tão habituado/a que está a essa economia das trocas de favores, talvez não note nada de estranho nos comportamentos descritos. Tudo bem, não se culpe, o costume leva a isso. Agora, analisando com mais distanciamento os fatos, observe que a vendedora não está fazendo favor algum em lhe providenciar o produto que a loja ofereceu em anúncio – e que é obrigada por lei a ter um mínimo em estoque. O funcionário público, por sua vez, também não está lhe favorecendo de nenhum modo, ao executar uma tarefa para a qual é pago para fazer, dentro do horário de seu expediente.
Ora, bolas, mas por que então eles agem assim? Agem assim porque estão impregnados da essência desse sistema que norteia – em muitos lugares – as relações humanas, comerciais, profissionais. Essa vendedora não se contenta em apenas lhe atender, e bem, como a loja decerto a instruiu; ela se aproveita para “embutir” na situação um favorzinho, pelo qual irá te cobrar mais tarde. O funcionário público do exemplo não se vê satisfeito em desempenhar com zelo a função para a qual foi contratado; desempenhando-a, quer fazer o cidadão acreditar que está recebendo uma atenção fora do comum, pela qual terá de pagar ou retribuir mais tarde, e no âmbito do pessoal, do particular.
Quais os efeitos disso tudo? Será que uma sociedade centrada nessa economia da troca de favores traz mais vantagens aos cidadãos? Ou desvantagens? É o que veremos na próxima edição.
(Continua...)
* Formado em Letras Clássicas pela USP, escreve e lê por gosto e ofício: atua como redator e editor. É aluno concluinte de Direito na UEMS-Paranaíba; reside em Aparecida do Taboado. Contato: agnaldoholanda@gmail.com.
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