Quarta-Feira 24/04/2024 05:38

Governo de Maduro se mantém graças a pilares políticos e econômicos; analistas explicam

Mundo - Política - Crise Venezuelana

Foto: Divulgação 

Mesmo sacudido por uma crise econômica sem precedentes, por manifestações populares diárias, e pela condenação de atores expressivos da comunidade internacional, o governo de Nicolás Maduro se mantém no comando da Venezuela. E, segundo especialistas ouvidos pelo G1, não há, por enquanto, perspectivas de que isso mude, graças a uma série de elementos econômicos, políticos e diplomáticos.

Se a situação atual da Venezuela tem tudo para compor um coquetel político-econômico explosivo, como, em meio a desabastecimento generalizado, inflação brutal, grande rejeição popular e desprestígio internacional crescente, Maduro consegue se manter no poder?

Os analistas ouvidos apontam quatro pilares de sustentação:

-Forças Armadas


-Apoio de parte da população


-Petróleo


-Suporte diplomático e econômico de outros países

A fragilização ou o fim de um desses pilares poderia levar à desestabilização definitiva do governo, segundo esses especialistas. Entenda abaixo como os fatores citados dão sustentação a Maduro:

Militares

“A militarização é a base do poder de Maduro. Toda a gestão governamental foi entregue aos militares. Isso mantém a lealdade ao presidente e sustenta seu governo com o uso da força e dos armamentos das Forças Armadas”, explica Alberto Pfeifer, coordenador-adjunto do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional (GACInt) da USP.

As Forças Armadas da Venezuela começaram a conquistar cada vez mais poder durante o governo de Hugo Chávez (1999-2013), e ampliaram ainda mais sua influência com Maduro, que entregou progressivamente a gestão dos recursos públicos para os oficiais na tentativa de mantê-los.

“A PDVSA (empresa petrolífera estatal), a distribuição de alimentos, os serviços de saúde pública, telecomunicações, indústrias, bancos e construtoras, entre outras coisas, estão sob o direto controle das Forças Armadas." Alberto Pfeifer, USP

O pesquisador também diz que vários governos estaduais são controlados por militares. "Não por acaso, Maduro postergou as eleições estaduais na Venezuela, que tinham que ser realizadas em 2016 e hoje não têm prazo para ocorrer.”

Além disso, 11 dos 32 ministérios do governo venezuelano, incluindo Defesa, Agricultura e Alimentação, são ocupados por militares na ativa ou da reserva. Os oposicionistas acusam as instituições geridas pelos militares de corrupção e os oficiais de alta patente de manterem vínculos muito estreitos com o narcotráfico e outras formas de crimes.

Oficiais como o ministro do Interior, o general Néstor Reverol, ou o ex-diretor de inteligência Hugo Carvajal são acusados pela justiça dos Estados Unidos de tráfico de drogas.

Ao mesmo tempo, os militares venezuelanos prometeram "lealdade incondicional" a Maduro, e graças a esse apoio o regime consegue resistir mesmo tendo perdido grande parte de sua base eleitoral.

Entretanto, nem todos nas Forças Armadas apoiam Maduro. “Há um contingente controlado pelo governo, leal ao presidente, mas existe uma porcentagem que não se sabe exatamente de que lado está. Cerca de 30% dos oficiais não estão alinhados com a visão bolivariana. Grupos mais conservadores, liberais, não são controlados diretamente por Maduro”, diz Ricardo Sennes, diretor da Prospectiva - Consultoria Brasileira de Assuntos Internacionais e coordenador-geral do GACint da USP.

A busca pela lealdade dos quartéis levou a um forte aumento das promoções. Hoje a Venezuela tem cerca de 1.000 generais, quando precisaria de apenas 200, já que seus efetivos totais são cerca de 115 mil homens. O Brasil, por exemplo, tem 371 mil militares na ativa, e conta com cerca de 300 generais.

População

Apesar de pesquisas mostrarem que 80% dos venezuelanos querem a saída de Maduro do poder, e estudos revelarem que a pobreza na Venezuela chegou a 81,8%, o governo bolivariano ainda mantém uma base de apoio.

“Maduro tem ainda o apoio de 15-20% dos venezuelanos. Segundo algumas estimativas, até de 30% da população. Isso é muito mais do que a popularidade de outros presidentes da região, como Michel Temer (5%) ou o presidente colombiano, Juan Manuel Santos (15%). Algo surpreendente se considerarmos a hiperinflação, o desabastecimento, a violência endêmica e a corrupção escancarada que estão deixando o povo exasperado”, diz Shifter.

Essa base de apoio é bastante heterogênea, sendo formada por militantes políticos fortemente ideologizados, faixas populares que receberam benesses dos programas sociais governamentais e de funcionários públicos e do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), entre outros.

A linha de ação do PSUV é o chamado "Socialismo do Século XXI", nome dado à ideologia de esquerda baseadas nas ideias, programas e estilo de governo associados com o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Durante o seu governo, Chávez realizou a reforma agrária, restringiu a participação de multinacionais na exploração de petróleo, nacionalizou os setores considerados estratégicos pelo governo, como de telecomunicações, energia elétrica e indústrias básicas de minerais, além de criar programas sociais generosos para as camadas mais pobres da sociedade, baseados nas chamadas "missões".

A maioria da população que quer mudanças políticas não se concentra em torno de uma proposta política alternativa ao regime. Pfeifer afirma que há uma forte desconfiança da população em geral em relação aos líderes da oposição.

"Os partidos de oposição gozam de um prestigio muito baixo, já que muitas pessoas ainda se lembram como era a vida na época em que eles governavam a Venezuela, nos anos 1990: muito ruim para os pobres. Então isso acaba se tornando um dos pontos que favorecem o governo de Maduro." Alberto Pfeifer, USP

Os especialistas ouvidos pelo G1 concordaram na opinião sobre as oposições venezuelanas, consideradas como “pouco comprometidas com um projeto global de desenvolvimento do país”, salientando também as fortes divisões dentro da própria frente oposicionista.

“Entre eles, há republicanos e não republicanos, há os golpistas de 2002, há figuras como o Henrique Capriles, que se inspira no governo de Lula, mas também Leopoldo López, que é muito mais à direita. Se a oposição disputasse uma eleição livre haveria muitas divisões internas, e o resultado não seria nada certo”, indica Sennes.

PDVSA

Além do apoio das Forças Armadas, o regime de Maduro conseguiu sobreviver a meses de protestos nas ruas e a uma economia em queda livre também graças à petroleira estatal venezuelana PDVSA, transformada em um bastião de apoio ao governo e fonte de recursos indispensáveis para manter o poder.

“O petróleo é a única coisa que a Venezuela consegue produzir, e o país tem as maiores reservas do mundo”, explica Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano, centro de estudos com sede em Washington.

Do petróleo, provêm 95% das divisas que entram na Venezuela, quinto exportador mundial do produto, e cerca da metade do orçamento do governo. O petróleo é um fator tão determinante para a economia da Venezuela, que há alguns anos, o líder opositor Julio Borges, dirigente do partido Primeiro Justiça, chegou a declarar que “na Venezuela não há bons ou maus governantes e sim governantes com o preço do petróleo em baixa ou em alta”.

“O controle da PDVSA garante o controle dos recursos econômicos, neste momento escassos, que são distribuídos para as bases de apoio tradicionais do governo”, explica Oliver Stuenkel, professor adjunto de relações internacionais na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.

Ao longo dos 18 anos de governos bolivarianos, a PDVSA - sigla para Petroleos de Venezuela SA - foi convertida em um centro de poder governista, através de demissões de 18 mil funcionários oposicionistas e da alocação de executivos alinhados com o governo.

Substituições de executivos veteranos acabaram eliminando do organograma da empresa perfis técnicos altamente qualificados, enfraquecendo a PDVSA e prejudicando a antes florescente indústria petrolífera do país, que é membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

A produção de petróleo venezuelana ruma para encerrar 2017 com um recorde negativo histórico, mas o governo de Maduro ainda depende muito da PDVSA como seu motor financeiro.

“A PDVSA registrou uma forte queda da produção ao longo dos últimos anos em relação ao auge no longo dos anos 1990: de 3 milhões de barris por dia passou para 2 milhões. E hoje há preocupações fortes por parte de especialistas sobre as capacidades da empresa de continuar operando”, explica o professor Pfeifer.

Aliados Internacionais

O petróleo também permitiu à Venezuela conquistar um certo apoio internacional, garantindo a Maduro alianças que sustentam seu governo.

“A China, a Rússia, Cuba, o Irã e, apesar de toda a retórica, os Estados Unidos são outra base de sustentação do regime venezuelano." Oliver Stuenkel, FGV-SP

Os EUA, em particular, compram cerca de 700 mil barris de petróleo por dia da Venezuela, de uma produção total diária de cerca de 2 milhões de barris. Além disso, as refinarias do sul dos Estados Unidos foram projetadas para processar o “óleo cru pesado” venezuelano, com um alto teor de enxofre. Por isso, mesmo que Washington já tenha aplicado sanções contra líderes venezuelanos, dificilmente bloqueará as importações petrolíferas do país sul-americano, pois isso provocaria problemas também às empresas americanas.

“Além disso, a China é o principal investidor na Venezuela, a Rússia faz compras importantes em petróleo, e ambas já emprestaram cerca de US$ 60 bilhões ao país pedindo como garantia as ações da Citgo, empresa estatal de refino venezuelana. Cuba fornece médicos, treinamento e até as ‘guardas pretorianas’ do regime. Por isso, todos eles garantem a sobrevivência do governo madurista”, explica Reggie Thompson, analista de América Latina na consultoria de riscos estratégico Stratfor.

Esse apoio diplomático também repercute em fóruns internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU, onde China e Rússia têm assento permanente e direito de veto, assim como a possibilidade substituir rapidamente o mercado americano, em caso de sanções, exportando mais óleo pesado para a China.

G1 /PH

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