Maduro proclama vitória, mas oposição não reconhece resultados
Mundo - Política - Eleições na Venezuela
Presidente venezuelano afirmou que chavismo venceu em 17 dos 23 estados nas eleições regionais deste domingo.
Foto: Venezuela realiza eleições regionais nas quais irá determinar os novos governadores de seus 23 estados - 15/10/2017 (Ricardo Moraes/Reuters)
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, proclamou a vitória de seu partido nas eleições regionais deste domingo, com 17 estados conquistados por candidatos do governo, mas os resultados não foram reconhecidos pela oposição, que, segundo o Conselho Eleitoral, venceu em cinco estados. “Vitória clara. O chavismo arrasou nas eleições”, celebrou Maduro, antes de anunciar que o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) também pode vencer no estado de Bolívar, o único que ainda está em disputa do total de 23.
Minutos depois, Gerardo Blyde, líder da campanha da opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), declarou que “neste momento não reconhecemos nenhum dos resultados. Estamos diante de um momento muito grave para o país”. Ele pediu uma auditoria total do processo e afirmou que o governo “sabe que não é maioria” e para vencer, completou, teve que recorrer a “violações” de leis e “condições abusivas em um processo eleitoral desigual, desequilibrado e cujos resultados não refletem a realidade”.
“Exigimos auditar todo o processo, seu sistema, as digitais (dos eleitores), todo o processo”, disse. Blyde também pediu aos candidatos que organizem “diversas atividades nas ruas em apoio” à MUD. “Convidamos o povo venezuelano a lutar para mudar este sistema eleitoral que não é confiável”.
O chavismo tinha 20 governos estaduais. A queda para 17 é considerada um triunfo para Maduro porque todas as pesquisas apontavam o favoritismo da oposição, que tinha a possibilidade de vencer em até 18 disputas em caso alta participação do eleitorado.
Cercado por líderes do PSUV e de comandantes militares, o presidente venezuelano já havia criticado Blyde por advertir, antes da divulgação dos números oficiais, que a oposição tinha “sérias suspeitas, dúvidas, sobre os resultados que serão anunciados”. “Alguns dirigentes saíram a cantar fraude (…) Pelo amor de Deus, acatem os resultados transparentes”, afirmou.
Tibisay Lucena, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) – órgão acusado de servir ao chavismo -, afirmou que a tendência era “irreversível” em 22 estados e anunciou um índice de participação eleitoral de 61%.
A oposição perdeu a joia da coroa, o estado de Miranda, que era governado desde 2009 pelo ex-candidato à presidência Henrique Capriles. O chavismo foi derrotado nos estados estratégicos de Zulia e Táchira, fronteiriços com a Colômbia.
“O chavismo está vivo”
Em Chacao, reduto opositor da zona leste de Caracas, as ruas estavam desoladas e em silêncio, sem os habituais “panelaços” de protesto, enquanto um grupo de chavistas celebrava na praça Bolívar do centro da capital. “O chavismo está vivo, está nas ruas e está triunfante”, festejou Maduro, que tem um índice de impopularidade próximo de 80%, segundo o instituto Datanálisis.
As eleições aconteceram com um ano de atraso e depois de dois meses de trégua, depois dos protestos convocados pela MUD e duramente reprimidos por Maduro que deixaram 125 mortos entre abril e julho. A oposição havia solicitado a seus seguidores que votassem para derrotar o governo de Maduro.
A eleição também era considerada uma oportunidade para a MUD mostrar sua força, após uma incipiente tentativa de diálogo com mediação internacional. Mas com os resultados anunciados no domingo “a via de negociação política entre governo e oposição para resgatar equilíbrios se rompe estrepitosamente”, opinou o analista Luis Vicente León. Este foi o primeiro duelo eleitoral desde a grande vitória da oposição nas legislativas de 2015, quando rompeu uma hegemonia chavista de 18 anos.
Maduro anunciou ainda que o chavismo também venceu a votação nacional, com 54% dos votos, contra 45% da MUD. O presidente transformou as eleições para governadores em um ato de legitimação da Assembleia Nacional Constituinte, integrada apenas por chavistas e não reconhecida pela oposição e por vários países da América Latina e Europa. Maduro afirmou que os governadores eleitos devem ser subordinados à Constituinte, totalmente governista, já que a oposição não participou da votação para a mesma, por considerá-la fraudulenta
Além da frustração de seus integrantes, a MUD enfrentou problemas como a mudança de última hora de quase 300 locais de votação, o que denunciou como “abusos” do CNE para favorecer o governo.
Desde a eleição da Constituinte em 30 de julho, os protestos cessaram, mas o país continua sendo uma panela de pressão: está à beira da hiperinflação, com uma severa escassez de alimentos e remédios, além de uma queda do PIB que, segundo o FMI, será de 12% este ano.
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