Insatisfeitos com reeleição de Maduro, venezuelanos em RR relatam falta de perspectiva: 'desacreditados'
Mundo - Política - Eleições 2018
Em votação marcada por abstenção e denúncias de fraude, Maduro foi reeleito no domingo (20) para mandato de mais 6 anos. 'Viver nas ruas do Brasil é melhor do que ficar na minha casa na Venezuela', diz imigrante recém-chegado a Roraima.
Há 20 dias em Roraima, Jorge Alcantra, 29, e Julio Fuentes, 29, trabalham para juntar dinheiro e assim custear a viagem de parentes da Venezuela para o Brasil (Foto: Alan Chaves/G1 RR)
Areeleição de Nicolás Maduro neste domingo (20) gerou insatisfação entre venezuelanos que imigraram para Roraima em razão da crise no país natal. Imigrantes ouvidos pelo G1 relataram falta de perspectiva e desesperança com o cenário político na Venezuela.
As eleições venezuelanas foram marcadas por denúncias de fraude, tentativa de boicote da oposição, abstenção de 54% e falta de reconhecimento por grande parte da comunidade internacional - incluindo o Brasil. Com o resultado do pleito, Maduro deve ficar no poder por mais seis anos.
Há 20 dias no Brasil, Julio Fuentes, de 29 anos, dorme na rua em Boa Vista e trabalha como sucateiro. Ele saiu de El Tigre, no Sul da Venezuela, e chegou ao país de carona e a pé, porque não tinha dinheiro para passagens de ônibus ou táxi. Agora, diz que só pensa em juntar dinheiro para trazer toda a família para o Brasil.
“Com Maduro no poder não temos perspectivas nenhuma. Quero um futuro para minha família e meus filhos. Viver nas ruas do Brasil é melhor do que ficar na minha própria casa lá na Venezuela", relatou Julio Fuentes.
Durante a votação de domingo, imigrantes protestaram em Roraima contra o pleito exigindo direito ao voto. O estado teve um único posto de votação na capital, onde, segundo os imigrantes, só puderam votar aqueles que têm residência fixa no Brasil e se inscreveram no consulado.
Jorge Alcantra, de 29 anos, também ficou insatisfeito com o resultado das eleições. Na Venezuela ele deixou os pais, irmãos e sobrinhos.
“Quero trazer todos meus familiares para o Brasil, mas não agora. Por enquanto eu quero trabalhar e mandar dinheiro pra eles. Sou a única pessoa fora do país que pode ajudá-los. Sou a única esperança”, lamentou.
Há quatro meses em Roraima e vivendo no abrigo público Latife Salomão, Beatriz Millan, de 37 anos, voltou a Venezuela há poucos dias para buscar o namorado. Ela disse que a situação do país é cada vez pior.
"Em 3 meses a situação piorou, as coisas estão mais caras e o salário não dá pra comer. [...] Faltam medicamentos e muitas crianças estão morrendo de fome. Muitos recorrem ao lixo para se alimentar", resumiu Beatriz que vivia em Puerto La Cruz.
Para ela, o resultado da eleição não é confiável e gera um sentimento de descrença.
"Maduro diz que vai fazer uma Venezuela melhor, mas não acreditamos. Estamos desacreditados no governo, desacreditados na eleição e desacreditados que Maduro possa melhorar a Venezuela".
Jorge, Júlio e Beatriz fazem parte do crescente número de venezuelanos que deixam o país pela fronteira com o Brasil por Roraima. A ONU estima que 800 fazem este caminho todos os dias para fugir da crise econômica e política vivida no regime de Maduro.
Foi essa fronteira que ficou fechada para veículos e pedestres de sexta (18) até às 6h desta segunda por ordem presidencial em razão das eleições. A medida fez com que venezeuelanos procurasssem rotas clandestinas para comprar comida e remédios no Brasil.
Só nos últimos três anos, quase 20 mil venezuelanos pediram refúgio em Roraima, primeiro estado após a fronteira. No primeiros dois meses deste ano, quase 3 mil venezuelanos solicitaram refúgio no estado e outros pediram 2,5 mil residência temporária.
Em razão do fluxo crescente de imigrantes em Boa Vista - onde já há 40 mil venezuelanos, segundo a prefeitura - oito abrigos foram abertos na capital. Juntos, eles têm capacidade para 3,1 mil pessoas, mas até a semana passada já tinham 3,4 mil moradores, a maioria recém-chegados da Venezuela.
G1 /PH
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