Sábado 20/04/2024 01:04

Região de Bonito "pede socorro", alerta pioneiro do turismo ecológico

Turismo - Mudança de Cenário


Eduardo Folley Coelho, empresário, pecuarista e ambientalista (Foto: Henrique Kawaminami)

Há 20 anos não tinha terra que fosse parar no rio. Poucas estradas, poucas lavouras e um paraíso escondido no interior de Mato Grosso do Sul. Hoje, no entanto, a situação é extrema, as estradas escoam terra nas águas, as lavouras avançam e um rio de lama tomou conta das águas cristalinas, de azul esverveado do Rio da Prata, em Jardim, depois da chuva torrencial de dias atrás.

A mudança de cenário é parte do relato de Eduardo Folley Coelho, pioneiro na região que é menina dos olhos do turismo no Estado, com mais de 150 mil visitas por ano, boa parte delas de estrangeiros. Pecuarista, dono de passeios ecológicos, fundador da associação dos donos de atrativos turísticos de Bonito e região e do instituto das Águas da Serra da Bodoquena são apenas parte do currículo do empresário que defende mais proteção a um dos ecossistemas mais famosos do mundo.

Bonito, para ele, pede socorro. Na avaliação do pecuarista o rio lamacento, que provocou uma série de medidas emergenciais por parte do governo do Estado, denuncia a falta de política de prevenção a longo prazo para proteger, afirma, um destino que atrai os olhares do mundo todo. Eduardo pede mais ação do governo e, também, mais diálogo entre os setores.

O empresário cria gado ao mesmo tempo em que atua pela proteção da regiã. É a prova do que defende: é possível que todas as atividades coexistam em harmonia em Bonito e região.

“Eu acredito que a pecuária, a agricultura e a conservação podem caminhar juntas, dá para conviver as atividades. Na região de Bonito, a agricultura e a pecuária vão ter que ter um nível mais alto de tecnologia em termos de conservação. Uma atividade não tem o direito de inviabilizar a outra. O que está acontecendo hoje, não são todos os agricultores, mas alguns agricultores estão inviabilizando a atividade turística”, conta.

“Essa riqueza, esses rios da água limpa, isso é patrimônio do mundo, as pessoas valorizam em todos os cantos do mundo, nós não temos o direito de estragar isso. Cada um tem que dar a sua contribuição para fazer isso ficar bem”. 

Uma grande preocupação é com a preservação da mata ciliar, que é uma barreira natural para evitar a degradação do rio e ação direta das chuvas. No mapa abaixo, é possível ver que ao longo do Rio da Prata, há uma imensidão de área desmatada e só um 'risco' de vegetação intactada margeando o rio. 

Banhados em risco – Uma das situações pouco discutidas, comenta Eduardo, são as agressões aos banhados, territórios planos e pantanosos onde nascem os rios como o Prata e Formoso. Nesses locais, segundo explicou, lavouras avançam, a chuva leva agrotóxicos aos rios e valetas de quase dois metros fazem com que a água escorra levando sedimentos.

“Aí o que acontece, você vai lá e planta soja nessas áreas, aplica um monte de adubo e veneno, chove forte, pra onde vai esse veneno? Vai para o rio. Aí está lá no balneário de Jardim, cheio de turista, vão estar nadando no meio do herbicida. Então você plantar soja num banhado, uma coisa é você ter valetas, em 1950, valeta fina e o gado usar de vez em quando, outra cosia é você plantar soja, depois milho e colocar agrotóxico e isso descer pro rio. Quem está fazendo exame da água? Então tem um problema instalado lá. Se não cuidarmos dos banhados de Bonito, os rios vão ficar cada vez mais secos, porque não tem esse reservatório de água”, comenta.

É o que também pensa o engenheiro agrônomo da região de Bonito, José Egidio Peccini. Ele explica que as plantações nos banhados não são recomendadas . “O banhado tem uma função especial na reposição de água para manter as águas dos rios então, tecnicamente não se recomendaria”, comenta.

Eduardo comenta que além da situação dos banhados, a expansão de estradas sem o devido cuidado de retenção de água é parte do problema que ameaça a conservação dos rios como da prata.

“O problema de Bonito não é só agricultura e pecuária, as estradas são umas das principais responsáveis por levar a água turva pros rios. A estrada é uma concentradora de água, aí a estrada desagua direto no rio, ou em uma fazenda, aí sai fazendo estrago e acaba chegando a água no rio. Tem uma imensidão de estradas que foram abertas sem critério técnico. Você tem que fazer lombadas, as saídas d’água, não pode fazer estrada descendo ribanceira abaixo, tem uma imensidão de sítios de lazer que foram criados lá que estão turvando o rio também, às vezes até estrada que está indo para o atrativo turístico”, conta.

Manejo de propriedades rurais - Assustadas com a cor lamacenta do rio da prata próximo ao Balneário de Jardim, vizinha a Bonito, autoridades investigaram e descobriram que duas propriedades não construíram curvas de níveis durante o manejo do solo para o plantio de soja. Os proprietários foram notificados pelo Imasul (Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) nesta quinta-feira (22).

O agrônomo explica que projetos como terraços e plantio diretos são necessários para evitar que a água carregue sedimentos do terreno de plantio para os rios. “A construção de terraços é uma das possibilidades, nós temos a maioria das áreas implantadas no sistema de plantio direto, para manter a cobertura morta e inibe o carreamento de sedimentos dos rios. Acredito que a nossa principal técnica é a conservação”.

“É uma área nova [propriedades notificadas], de abertura, ou seja não tem palhada sobre a área, nós temos identificado problemas de áreas vizinhas que não são lavouras, e despejaram bastante água ne potencializou o problema da lavoura em função das áreas vizinhas”, comentou.

Eduardo defende que há “tecnologia de sobra” para uma agricultura que não agrida o meio ambiente. “Tecnologia para ter as atividades pecuárias e agricultura em boas condições, com conservação de solo, você tem de sobra, então a agricultura na região não vai poder ser feita por agricultor desleixado”.

“O Instituto do homem Pantaneiro está estudando a criação de um pacto entre todos os setores para que a gente possa ter a convivência das várias atividades econômicas, então o pessoal do turismo tem que respeitar o pessoal da agricultura, tem espaço para todo mundo”, complementa.

Um plano a longo prazo – Agora, opina Eduardo, a saída é a elaboração de um plano a longo prazo, mirando, afirma, dez anos de conservação e não apenas corrigir problemas existentes. Para o empresário, no entanto, o setor ruralista precisa estar “desarmado” e deixar de lado a política do “nós contra eles”.

“A gente tem que fazer um plano. O certo é criar um grande comitê, escrever um plano de todas as coisas que precisam ser feitas. Arcabouço legal, o que precisa fazer. Um plano de conservação de solo, conservação das estradas, recuperação de mata ciliar, programa de educação ambiental. Monitoramento se está tendo agrotóxico nos rios. São várias linhas de ações e a gente tem que pensar não em dois anos, temos que pensar em dez anos. E o que dá pra fazer agora, fazer”, comenta.

Bonito e região, defende, podem ser um exemplo para o mundo. “Mostrar um lugar onde todas as atividades convivem em harmonia. Se o Brasil mostrar pro mundo que a nossa agricultura é moderna, conserva o meio ambiente, nós vamos abrir mercado”, declarou.

Campo Grande News/ JM

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