O herói de Atlanta: em busca de paz, Tata Martino encontra a glória sem querer
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Foto: Joe Petro/Icon Sportswire via Getty
Parte pela imponência do palco, parte pela alegria genuína e contagiante dos torcedores, toda festa no estádio do Atlanta United é magnífica. Está entre as tarefas mais complicadas do mundo encontrar alguém que não concorde - queira o sujeito tenha conhecido a arena bilionária em pessoa ou apenas visto pela televisão. É invariavelmente de arrepiar. Ainda assim, o último dia 11 de novembro teve um "quê" de especial.
Momentos antes do pontapé inicial da partida contra o New York City, um Tata Martino gigantesco ergueu-se das arquibancadas, os braços cruzados e os óculos de armação simples no rosto. A torcida fez surgir junto duas faixas, uma de cada lado, de modo que El Tata ficou posicionado no centro.
- Nem todos os heróis usam capa - diziam. - Mas o nosso, sim.
Ali em meio às mais de 70 mil pessoas na arena, o treinador sorriu - embora sem o casaco pendurado nos ombros, que por vezes parece mesmo uma capa. Aplaudiu meio sem jeito, como quem não sabe se comportar diante de um elogio.
Convenhamos: nada mais justo homenagear quem assumiu as rédeas de um projeto ainda no papel, quem em dois anos ajudou a transformar o Atlanta United numa das maiores franquias da Major League Soccer... e que já anunciou que não continuará no ano que vem.
O Atlanta venceu, na ocasião, o jogo que era o de volta das semifinais da Conferência Leste: 3 a 1. Como havia perdido por 1 a 0 na ida, avançou. Venceu também a primeira partida da final contra o New York RB no último domingo, por 3 a 0. O que significa que a equipe vai a campo nesta quinta-feira, às 22h30 (de Brasília), fora de casa, podendo perder por até dois gols de diferença para ficar com o título da conferência. A grande decisão da MLS será no dia 8 de dezembro entre os vencedores de Leste e Oeste.
Muito embora seja a glória maior da carreira do treinador, a possibilidade de levantar taças não foi o que levou Tata Martino aos Estados Unidos. O homem que comandou o Barcelona cinco temporadas atrás tinha e que por dois anos esteve à frente da seleção argentina tinha em mente algo mais subjetivo, menos palpável e cuja relevância não se pode mensurar.
Ele buscava a paz.
Aos 56 anos, Tata experimentou de tudo um pouco na carreira de técnico - especialmente nos últimos anos. Em 2012, o treinador que havia recém-encerrado sua passagem na seleção do Paraguai assumiu o Newell's Old Boys. Clube de Rosário, cidade onde nasceu, o que tornava a oportunidade num sonho realizado. Durou pouco, mas só porque algo maior o esperava.
No mês de julho de 2013, ele já era comandante do Barcelona. O primeiro jogo para valer resultou no primeiro título: a Supercopa da Espanha, com gol de Neymar contra o Atlético de Madrid. Só que o desenrolar da temporada contrariou os cálculos promissores e reservou não mais que o segundo lugar tanto no Campeonato Espanhol quanto na Copa do Rei. Isso sem falar da queda nas quartas de final da Liga dos Campeões para o mesmo Atlético de Madrid, quem diria. Não foi mantido no cargo.
Veio, então, a Argentina em 2014 - e a segunda chance de comandar quem para muitos é o melhor jogador do mundo. Tata Martino parece ter feito de tudo para dar à geração de Lionel Messi um título de expressão, mas precisou se contentar com dois vices da Copa América (2015 e 2016) que, dadas as expectativas, doeram como um soco no estômago.
"Depois de tudo isso, era hora de voltar a viver como uma pessoa normal. Sair daquela atmosfera, da boca de todo mundo", contou ele em entrevista a um jornal de Atlanta em maio deste ano.
- Foi a decisão mais sábia que eu tomei na minha carreira.
O começo. E o recomeço
Tata Martino retornou para Rosário em julho de 2016. O conforto da família e do bairro onde cresceu eram o refúgio do qual precisava no momento. Estava certamente aconchegado em algum canto do lar quando, em setembro, recebeu o convite que havia percorrido quase 8 mil quilômetros para chegar até ali. E um tanto quanto raro no meio do futebol onde os clubes, senão centenários, estão quase lá.
Tinha a oportunidade de pegar uma equipe do zero.
O Atlanta United preparava-se para disputar a primeira temporada profissional de sua vida na Major League Soccer. Dispunha de recursos para tal - o dono do clube é Arthur Blank, empresário de sucesso no país. Mas o estádio, o elenco e a estrutura prometidos não passavam de um projeto. Depois de jogar uma Copa do Mundo e dirigir instituições como Barcelona e seleção argentina, ele aceitou assumir uma equipe que sequer existia.
- Quando Martino foi contratado, o Atlanta United tinha meia dúzia de jogadores, não tinha centro de treinamento e nem estádio. Ainda assim, ele aceitou vir. Isso diz muito sobre o seu caráter - definiu Doug Roberson, jornalista local, ao GloboEsporte.com.
Vejam só que engraçado: o começo do Atlanta United e o recomeço de Tata Martino entrelaçaram-se de tal modo que tornaram-se uma coisa só. Como consequência, o sucesso do clube começou ali. Porque a equipe sendo montada do nada é uma coisa, e a equipe sendo montada do nada que tem Tata como treinador é outra completamente diferente.
O projeto do Atlanta ganhou valor. De repente, todo mundo queria vestir a camisa vermelha e preta. Sobretudo jogadores sul-americanos. Chegaram, por exemplo, o zagueiro argentino González Pírez, o meia chileno Carmona, o atacante venezuelano Josef Martínez... Ao "Players Tribune", Miguel Almirón, jovem meia paraguaio e um dos líderes em assistências da MLS, confessou certa vez:
"Eu não sabia muito sobre a MLS, não sabia onde ficava Atlanta, não sabia nada. Mas Tata era o treinador, e isso era tudo que eu precisava saber."
No momento, são oito sul-americanos no elenco: quatro argentinos, dois venezuelanos e dois paraguaios. Martínez, 25 anos e convocado com frequência para a seleção venezuelana, marcou 34 gols este ano e se tornou o maior artilheiro em uma só temporada da competição; Almirón, 24 anos, provavelmente vai jogar na Premier League em 2019. Talentos pinçados e polidos por um Tata Martino que reaviu a "habilidade de curtir seu time" perdida nos tempos de Barcelona e Argentina.
- Eu precisava voltar para algum lugar onde eu pudesse recuperar isso - recordou.
Logo no primeiro ano, Tata Martino levou a equipe aos playoffs da Conferência Leste depois de terminar a temporada regular em quarto lugar. Caiu nos pênaltis para o Columbus Crew, mas havia a impressão de que aquela equipe daria liga. Em 2018, com o conceito de um futebol bem jogado e até certo ponto divertido, o time marcou 70 gols (o melhor ataque da competição) e ficou em segundo na tabela.
O New York City ficou pelo caminho nas semifinais - derrota por 1 a 0 na ida e vitória por 3 a 0 na volta. E o New York RB vai atrás de uma improvável virada nesta quinta depois de perder o primeiro jogo por 3 a 0. Ou seja, o Atlanta está praticamente em um relacionamento sério com seu primeiro título.
A relação com a torcida é um capítulo à parte nessa história. O clube de Atlanta é um fenômeno de público difícil até de ser explicado, e o estádio sempre cheio unido ao carinho dos torcedores aqueceu o coração do argentino que tanto carecia de afago.
A equipe de Atlanta é líder no que diz respeito a presença de torcida com substancial sobra, a média de 53 mil torcedores nos jogos em casa. Os sete maiores públicos da história da Major League Soccer pertencem ao clube - que, vale lembrar: tem apenas duas temporadas de vida. O recorde foi num empate com o Seattle Sounders no dia 15 de julho deste ano, quando 72.243 pessoas estiveram na arena.
Sim, 15 de julho. Naquele dia, a bola rolou em Atlanta pouco depois da final de uma tal Copa do Mundo.
Rumo ao México?
Tudo indica que Tata Martino assumirá o comando da seleção do México, embora nem ele nem a Federação Mexicana tenham se pronunciado sobre o assunto. A imprensa diz que o acordo será divulgado apenas quando a temporada do Atlanta United chegar ao fim.
Ao anunciar que não fica no clube no ano que vem, o treinador argentino apenas agradeceu.
- Essa não foi uma decisão fácil. Não foi por motivos financeiros, as negociações com o clube foram justas e transparentes. Era simplesmente a escolha certa para mim e para minha família no momento. A oportunidade de construir um time do início não aparece com frequência, e eu sou grato ao clube e aos torcedores por me darem confiança para estabelecer uma base sólida aqui em Atlanta - declarou ele, eleito o técnico do ano da MLS.
- Os torcedores do Atlanta vão sentir muita falta do Martino - discorre o jornalista Doug Roberson. - Eles estão tristes, mas agradecidos. Ninguém tinha certeza se ele teria a atitude de abraçar o projeto quando chegou, e ele abraçou totalmente. Parece ter aproveitado a simples oportunidade de treinar o time.
Uma coisa é certa: Tata Martino vai sair em paz. Embora tenha conquistado muito mais do que isso.
Globo Esporte/JM
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