Manchester United de Solskjaer: o caso de amor do homem que restaurou a alma de um clube
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Adversário do Barcelona nas quartas da Champions volta a sentir-se grande sob o comando do norueguês, herói da emblemática conquista em 1999: "Ele tem DNA do Manchester United"
Reuters
Clubes de futebol têm vida. São instituições carregadas de tanto simbolismo, capazes de provocar os sentimentos mais primitivos e irrestritos, que falta a eles só criar pernas e sair andando. Logo, clubes de futebol têm alma. E, aos descrentes, sugiro que deem um pulo na Inglaterra. O povo lá jura que um homem, sozinho, trouxe de volta a do Manchester United.
O bandeirão estendido com altivez no Old Trafford há duas semanas dá ideia da idolatria de que Ole Gunnar Solskajer dispõe. Contra o Watford, a "lenda" comandou a equipe pela primeira vez como técnico efetivado, e não mais o tampão do buraco subsequente à saída de José Mourinho em dezembro do ano passado. O United venceu o jogo por 2 a 1, uma doce rotina sob as rédeas do norueguês.
Embora impulsionada pelo presente, a homenagem remete também ao passado: o número 20 (que na bandeira ajuda a compôr o trocadilho com "Ole") estampou por mais de uma década as costas do atacante que jogou no Manchester United de 1996 a 2007. Na época, o clube era quem dava as cartas na Inglaterra, dividindo com o Arsenal temporada a temporada o posto de time a ser batido. Conquistou a Premier League seis vezes nesse período e ficou com o vice em outras duas, para situá-los.
Além disso, e aí vamos falar sobre um capítulo à parte na biografia de Solskjaer, aconteceu o título da Liga dos Campeões em 1999. Uma das viradas mais improváveis de toda a história da competição.
No Camp Nou, o Bayern de Munique de Oliver Kahn e Lothar Matthäus abriu o placar com seis minutos de jogo quando Basler cobrou falta no canto, enganando Schmeichel, que ali estava antes de dar o passo para o lado oposto. Os alemães, terríveis, acertaram a trave por duas vezes e levaram a vitória até os acréscimos do segundo tempo. Aos 46, o Manchester United empatou. Aos 48, virou.
O primeiro gol foi marcado por Sheringham, chorado, depois de um chute torto de Ryan Giggs que a princípio parecia não dar em nada. Fervorosos, os torcedores ainda comemoravam quando Beckham cobrou o escanteio, Sheringham desviou de cabeça, e Solskjaer esticou o pé direito para estufar as redes. Em seguida, correu sem rumo e deslizou sobre os joelhos numa imagem que dá arrepios e afoga em nostalgia qualquer torcedor do clube inglês.
O feito marcou uma geração carimbada pela técnica e disposição em campo, mas principalmente por dar ao Manchester United o luxo de vestir-se de favorito seja lá qual fosse a competição. De sentir-se grande. Tais características de alguma forma se desprenderam do clube, que há cinco anos fica longe da briga pelo título da liga e que andou não se classificando sequer para a Champions em anos recentes; mas parecem estar retornando com Solskjaer no comando. Aos poucos, mas estão.
- Solskjaer tem o DNA do Manchester United – concorda Rene Meulesteen, técnico da base do clube por anos e credenciado pelas temporadas em que foi auxiliar de Sir Alex Ferguson.
"Ele conhece o clube, conhece o tamanho do clube e não se assusta com isso."
Solskjaer assumiu um United com cara de terra arrasada, o que, convenhamos, é comum por onde José Mourinho passa. No momento, o cenário era de muitas picuinhas e poucos resultados: Mourinho venceu dois dos seus últimos oito jogos. Pois o norueguês deu pinta de que não estava para brincadeira logo em sua estreia, com um acachapante 5 a 1 sobre o Cardiff. Foi a primeira vez desde 2013 que os Red Devils fizeram cinco gols em um jogo de Premier League (5 a 5 com o West Bromwich, na despedida de Ferguson).
Daí em diante foram oito vitórias consecutivas, adicionando Tottenham e Arsenal à lista de vítimas, por exemplo. O saldo de Solskjaer é de 15 vitórias em 21 jogos, o que leva os torcedores a crer que não passaram de acidentes de percurso os tropeços recentes, como as duas derrotas para o Wolverhampton, uma delas tendo culminado em eliminação na Copa da Inglaterra.
- Os resultados têm sido muito bons. Nós temos um treinador que nos valoriza, um treinador feliz. Ele deu a confiança de volta aos jogadores - opina Paul Pogba em palavras que podem ser interpretadas tanto como elogios ao novo técnico como críticas ao antigo, complementando:
"Ele nos deu liberdade para jogar futebol de novo. Talvez tenhamos perdido isso antes"
Apesar da contundente reação, é tarde demais para falar em luta pelo título da Premier League - o abismo para o líder Liverpool ainda é de 21 pontos (!). Os esforços estão todos voltados para a Liga dos Campeões. Foi nela que Solskjaer sofreu sua primeira derrota no comando do United: 2 a 0 para o Paris Saint-Germain, no Old Trafford, pelo jogo de ida das oitavas de final. Jamais na história dos jogos mata-mata da competição um clube havia se classificado depois de perder por 2 a 0 em casa.
Aconteceu que esse é o Manchester United de Solskjaer.
Na volta, no Parque dos Príncipes, em Paris, Lukaku se aproveitou de uma bobeira da defesa parisiense para abrir o placar nos primeiros minutos. Bernat, completando o passe preciso de Mbappé pela direita, empatou para o PSG. Mas aí Buffon falhou, entregou nos pés de Lukaku ainda antes do intervalo e inflamou a partida. E o braço de Kimpembe na bola dentro da área, aos 45 do segundo tempo, deu a Rashford a responsabilidade de converter o pênalti e fazer 3 a 1. Por causa da quantidade de gols marcados fora de casa, o Manchester United passou.
- A gente sempre acredita, esse é o segredo - resumiu o treinador na coletiva.
O adversário nas quartas de final será o Barcelona. O primeiro duelo acontece nesta quarta-feira, às 16h (de Brasília), em Manchester - o GloboEsporte.com transmite em Tempo Real. O segundo, no dia 16 (terça que vem), será no Camp Nou, estádio que traz de volta à tona as lembranças mais aprazíveis de Ole Gunnar Solskjaer...
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Um caso de amor
O norueguês de 46 anos entrou caminhando na sala de imprensa dias depois de saber que seria efetivado no cargo de treinador, o sorriso indisfarçável de orelha a orelha.
- Esse emprego era o meu maior sonho.
"Sonho" virou vírgula no discurso de jogadores e treinadores de futebol, de modo que por vezes seu real significado passa batido. No caso de Solskjaer, o desejo de ser treinador do Manchester United era o combustível que o movia. Ajuda a reforçar essa tese o fato de ele nunca ter se livrado de sua casa em Manchester, embora esteja morando na Noruega há quase 10 anos - inclusive, alugou a mansão para Van Dijk, do Liverpool.
Casado e pai de três filhos, ele chegou a assumir funções na comissão técnica de Alex Ferguson depois de se aposentar em 2007 e foi por dois anos e meio o treinador do Manchester United Reserves, como é chamado o time sub-23 do clube.
Em janeiro de 2011, aceitou o convite para dirigir o Molde, time da Noruega pelo qual teve passagem como jogador; e teve um início de trabalho memorável. Venceu, por exemplo, a liga por dois anos consecutivos (2011 e 2012), além de ter conquistado o título da Copa da Noruega em 2013. Dizem que a federação norueguesa o chamou para treinar a seleção nessa época, mas Solskjaer declinou, alegando não estar pronto.
Eis que, em 2014, o Cardiff que namorava a zona de rebaixamento no Campeonato Inglês apostou suas fichas no treinador na tentativa de escapar da degola. Mal sabia ele que a primeira oportunidade na Premier League de sua versão treinador seria um fracasso. Em pouco mais de nove meses, Solskjaer não conseguiu evitar a queda para a segunda divisão, perdeu 16 dos 30 jogos disputados e foi demitido, deixando a equipe na 17ª colocação da Championship.
Voltou para a Noruega com o rabo entre as pernas, sabendo que havia causado péssima impressão. À frente do Molde novamente, até alcançou a façanha de terminar em primeiro na fase de grupos da Liga Europa 2015/16 numa chave que tinha Fenerbahçe, Ajax e Celtic. De resto, nada demais: as duas últimas temporadas foram de razoáveis para boas.
É por isso que o convite para assumir como técnico interino do Manchester United no final do ano passado surpreendeu de certa forma.
Havia uma cláusula no contrato com o Molde que dava flexibilidade a Solskjaer caso o Manchester United entrasse no percurso, e é por isso que ele, a princípio, foi cedido aos Red Devils somente até maio. Ou seja, depois disso, teria que retornar à Noruega. Na sua apresentação como técnico interino, um jornalista perguntou se ele, por um acaso, alimentava a esperança de ser efetivado no cargo mais para frente.
- Eu não estaria aqui se fosse o contrário.
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