Murilo Benício volta ao horário nobre em 'Amor de Mãe' — Foto: Artur Meninea/Gshow

Murilo Benício, em breve, estará em dois momentos na TV: além da reprise de Avenida Brasil (2012), no Vale A Pena Ver de Novo, ele aparecerá no horário nobre a partir do dia 25/11, em Amor de Mãe, na pele do empresário Raul. Com quase 30 anos de uma carreira respeitada e consolidada nas artes cênicas, o ator revela que não gosta de se ver atuando.

"Desde criança não me assisto. A maioria das pessoas não gosta. A gente espera atingir uma idade para parar de mentir. Estou com 48 anos, já não sou moleque, posso dizer que penso assim. Sinto muito prazer fazendo, mas não sinto assistindo. Acho que sou muito crítico, minha expectativa é tão alta que jamais vou alcançá-la. Então, nem vejo. Mas isso que me faz buscar, tentar fazer melhor e diferente."

Com uma estreia elogiada como diretor de cinema na adaptação de “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues, Murilo é sincero ao dizer que, desde seu primeiro trabalho por trás das câmeras, não dá mais opinião quando está do outro lado, atuando:

“Dou muito menos pitaco do que dava antes. Agora que estou dirigindo, não tenho mais esse direito porque parece que estou saindo do meu lugar de ator e indo para o de diretor, e posso ser mal interpretado. Estou caladíssimo (risos).”

Do contrário, ele garante, está valendo. Os artistas com quem trabalha têm total liberdade para opinar quando quiserem:

“Podem dar pitaco à vontade. Na primeira reunião de ‘O Beijo’, disse que queria que todos falassem. Se eu achasse a ideia boa, colocava, se não argumentava. Não tenho vergonha de falar do orgulho que sinto do filme, porque ele não é só meu. Tenho vergonha de falar de uma atuação minha, mas dele não, porque foi um trabalho coletivo.”

Ainda sobre novas investidas como diretor, Murilo avisa que não se sente pronto para comandar um set de novela, mas uma história com menos capítulos, quem sabe?

“A TV corre muito mais rápido do que o cinema. Dirigir uma novela, com certeza, acho que não estou pronto. Agora uma série, de repente, sim. Preciso ir devagar, ter mais experiência.”

Seu modus operandi como diretor funciona a partir de seu olhar como ator, das necessidades de quem está sendo filmado, da troca e também de ilustrações feitas por ele, em sequência, para orientá-lo durante as filmagens:

“Sei muito menos do que praticamente todos os diretores que filmam, mas entendo muito do ator, então isso é uma ferramenta que acho que eu trouxe para direção: minha proximidade com o elenco, entender a dificuldade de uma cena, por que não está orgânico... Minha ligação com atores fez com que eu ficasse muito a fim de dirigir. Por estar começando uma carreira nova, todas as cenas dos meus filmes têm storyboard. Tenho um livro só de desenhos para eu chegar no set sabendo o que vou fazer”, explica.

As críticas positivas do primeiro longa o encorajaram a encarar uma nova empreitada nas telonas: “A gente não teve uma crítica morna sequer. Foi impactante para mim, muito menos em um lugar de vaidade, muito mais no de achar que estou certo no que penso, que posso fazer’. Isso me animou para dirigir de novo”.

Seu segundo longa, “Pérola”, protagonizado por Drica Moraes, já foi rodado, mas Murilo precisou dar uma pausa na montagem para gravar Amor de Mãe:

“Estou acabando de montar ‘Pérola’, um texto do Mauro Rasi, dos anos 90, que fala de mãe. Está lindo. Queria lançar no Dia das Mães (em 2020), mas é difícil porque entrou a novela. Montar virou quase um hobby, faço quando posso, não estou lá como se fosse um escritório para aquilo sair com uma data específica.”

De volta às novelas

Na história de Manuela Dias, dirigida por José Luiz Villamarim, Murilo é Raul, empresário bem-sucedido, casado com Lídia (Malu Galli) e pai de Vinícius (Antonio Benício). Tem um caso extraconjugal com Estela (Letícia Lima), piloto de seu avião particular, mas se apaixona por Érica (Nanda Costa), maquiadora de sua mulher. Só que Érica deixa claro que não se envolve com homem casado. Encantado com a atitude da jovem e com sua autenticidade, ele se separa e assume o relacionamento para desespero de Lídia e Estela, que vão buscar vingança.

Diferentemente de outros personagens, para os quais fez um trabalho intenso de composição, Murilo optou pela simplicidade com Raul:

“É um dos caras mais próximos a mim que já fiz, de conteúdo, caráter, do modo como pensa, da inocência em querer o bem das pessoas e achar que tudo vai ficar bem. Dessa vez, resolvi não distanciar. Vou me emprestar mais para ele, sem me tapar tanto quanto, às vezes, faço. É uma das poucas vezes que estou fazendo questão de ser mais simples e o mais verdadeiro possível.”

O personagem também marca uma nova forma de atuação de Murilo, mas nada definitivo, ele avisa: “Em relação ao estilo de interpretar, ele muda com o tempo, agora a verdade jamais vai mudar. Estou tentando atuar de uma outra forma agora, usando só a verdade, fazendo de modo simples e muito próximo a mim, sem essa coisa de compor tanto, que eu também gosto, e já já volto a fazer (risos).”