Gabz comenta repercussão de cenas e debate racismo: 'É um fenômeno sociológico'
Brasil - Telenovelas - Malhação
Divulgação/TV Globo
Uma discussão de casal deu o que falar nas redes sociais e abriu um debate sobre racismo. Jaqueline, personagem de Gabz em Malhação - Toda Forma de Amar, quis terminar o namoro com Thiago (Danilo Maia) depois de uma briga em que percebeu como os dois pensam diferente sobre a questão racial. A repercussão foi tanta, que o Gshow convidou a atriz para comentar alguns dos comentários e lançar mais luz sobre o tema. Ativista articulada e empoderada, Gabz deu uma verdadeira aula e contou um pouco sobre a sua militância:
"Eu não tô aqui pra ficar indo lá na pessoa que é racista pra falar ‘olha só, isso não é legal’... Não vou fazer isso. Vou fortalecer os meus, quem quer ser fortalecido, porque assim a gente vai mudar tudo. Porque a gente não tá aqui pra mudar gente que é cabeça dura, a gente tá aqui pra reagir a eles".
Se você perdeu essa cena que bombou na web, é só dar um play no vídeo abaixo. E se você já viu, sabe que vale muito a pena ver de novo, né?
A atitude e o discurso de Jaqueline dividiu opiniões. Teve quem apoiasse a estudante, e teve gente que discordou dela. Mas teve também sugestão para que a personagem arrume um namorado negro. Para Gabz, essa discussão sobre os relacionamentos inter-raciais e os afrocentrados é muito interessante e importante de ser abordada, porque em geral pessoas negras crescem sentindo auto-ódio e tendo os brancos com ideais românticos.
"Para mim é uma questão realmente de você olhar para si e se questionar: ‘por que que eu não sinto atração por uma pessoa que é igual a mim’, sabe? Isso não quer dizer que é errado você namorar uma pessoa branca, claro que não. A questão é que você tem que parar e ter consciência do que você tá fazendo", completa a artista.
Gabz ressalta que ao falar de relacionamentos afrocentrados é preciso lembrar da solidão da mulher negra e como isso é diferente para mulheres. "Eu, na idade da Jaqueline, aquilo que ela vivia, de ter um garoto assim atrás dela, não acontecia comigo com nenhum garoto, seja ele amarelo, azul... não acontecia", conta. E pondera:
"Ter assa afetividade, ela se sentir desejada, ela se sentir amada dessa forma, é uma parada nova. E eu sei que dentro da Jaqueline tem isso também. Ela foi preterida várias vezes. É bom lembrar que o primeiro relacionamento dela ali com o Daniel (Hugo Moura), o menino não assumia ela, não, queridos. Ele não assumia ela!"
Opinião ou racismo estrutural?
Entre os comentários, alguém também criticou a Jaqueline por terminar o namoro só porque Thiago tem uma opinião diferente da dela. O que a atriz rebate com veemência, pois acredita que não é uma questão de opinião dizer coisas que ofendem sua existência, não é uma preferência do tipo "não gosto de feijão". Com apenas 20 anos, Gabz tem um discurso bem fundamentado e consciente do que é o racismo estrutural na sociedade. Ela aponta o diálogo como caminho para mudar esse cenário:
"Se a sua militância não conversa com a sua mãe, tem uma coisa errada. Porque se você não consegue dialogar nem com a sua mãe, que você foi criada com ela, acho que tem que rever toda dialética que a galera está estabelecendo. Então acho que a gente tem que ter, sim, métodos e formas de conversar com as pessoas".
"É a Jaqueline, mas é a parte da Jaqueline que é a Gabz"
O que acontece quando a dor da personagem é também a da atriz? Com Gabz e Jaqueline isso trouxe emoção que transbordou das cenas para os bastidores. A artista conta que ficou mexida e chorou muito depois de gravar, por exemplo, o momento em que Jaqueline chorava no ônibus, arrasada porque o pai escolheu uma mulher branca na trama. "Porque essa é uma questão que me afeta muito como pessoa a minha vida inteira. Eu demorei muito pra ter o meu primeiro namorado, pra me achar bonita. Demorei muito!", diz.
"Tudo que eu falei ali foi muito visceral porque, mano, eu tenho um irmão, sabe? Já aconteceu muitas vezes de a gente ficar em casa querendo morrer porque a gente não sabia onde o meu irmão tava. (...) Ele já foi confundido com uma pessoa e quase morto! Isso acontece, assim, diariamente. É uma parada que é cotidiana e é bizarro o quanto a gente só naturalizou esse sofrimento."
'Wikipreta' explica
"Agora serei o que? Gabz, 'WikiPreta' no momento, pra vocês entenderem umas coisas básicas", é assim que ela responde quando o assunto é racismo reverso, mencionado em alguns comentários. E então senta que lá vem a aula: "Por que não existe racismo contra pessoas brancas? Porque o racismo, ele é um fenômeno sociológico".
"Existe todo um fato histórico, não sei se vocês sabem, mas rolou aquele período ali da escravidão, entendeu? Rolou muita coisa nesse período, muita violência psicológica, muita violência física, e por isso que o racismo existe, infelizmente. Por isso que não tem como pessoas brancas sofrerem racismo nunca. Elas podem sofrer várias outras coisas, mas o racismo não é uma delas", garante.
"Não é sobre você ser bom ou ser ruim. Porque se a gente pensar que é sobre ser bom ou ser ruim, durante 400 anos todas as pessoas brancas do mundo eram ruins, né? E não é bem sobre isso, é sobre toda uma estrutura de poder, toda uma parada cultural. Então vamos com calma nisso aí, pelo amor de Deus, você não sofreu racismo porque você é branco. Não foi", completa.
Didática, ela também fala sobre os negros serem constantemente "embranquecidos" em comentários de amigos e até por suas próprias escolhas estéticas. "As pessoas sempre querem falar assim: ‘nossa, você é negra mas o seu nariz é fino’. Elas acham o ápice, a coisa maravilhosa, tentam sempre buscar qualquer ponto que seja mais parecido com uma coisa branca ali em você para ser um elogio. E isso é muito pesado", avalia.
A atriz lembra que na adolescência alisava o cabelo "para tentar ser morena", e que referências de beleza como Tais Araujo e Lupita Nyong'o mudaram sua vida:
"Quando eu era criança eu rezava para ser mais clara, e eu realmente não quero que as outras gerações passem por isso, pra gente ter referências de mulheres que têm a pele mais escura, que têm os traços africanos, sendo consideradas lindas e maravilhosas. Outra maravilhosa que tá aí pra gente agora é a Iza, que é uma mulher negra retinta e que é linda. ".
Por fim, neste dia 20 de novembro, em que é celebrado o Dia da Consciência Negra, Gabz deixa seu recado, reforçando que não se deve fingir que o racismo não existe, ou não acontece:
"Enquanto as pessoas não virem o problema, esse problema nunca vai ser resolvido. Porque se a gente fingir que não acontece vai ter que ficar aguentando calado as coisas. E ninguém tá aqui pra aguentar calado nada, não. Eu, hein!"
GShow/KV
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