Sexta-Feira 29/03/2024 08:01

A morte de Artuzi: suicídio ou assassinato, por Wilson Valentim Biasotto

Estado - Opinião - Populismo e Lição

Faleceu na noite de sexta-feira o ex-prefeito de Dourados Ari Artuzi, conheci-o em 1º de janeiro de 2001, quando tomamos posse como vereadores de Dourados.

Nossa primeira reunião de trabalho foi no escritório do então vereador Akira Oshiro para tentarmos eleger a presidência da Câmara, estamos em nove vereadores com afinidades políticas dentre os 17 eleitos (Ishi, Margarida, Zé Silvestre, Jorginho Dalzaker, Akira, Walter Hora, Gabiatti, Ari e eu) Teríamos maioria e a administração Tetila passado por menos percalços, não fora por Walter Hora pretender a presidência, rejeitando o meu nome e o de Nelso Gabiatti para a 1ª Secretaria. Mas, de qualquer forma apenas Gabiatti foi para a oposição e ficamos com uma bancada situacionista de oito vereadores. O resultado era o empate nas votações e o voto do presidente sempre contrário aos projetos do prefeito.

Ari, com o seu jeitão de desentendido dava-nos arrepios, mas nós precisávamos de seu voto e o cercamos de atenção. Por exemplo, na semana em que iniciamos os trabalhos legislativos ele me pediu que o acompanhasse ao Canaã I, reduto que o elegeu vereador não somente pelo seu esforço, mas pela herança política recebida de seu tio, Dioclésio Artuzi. Ari mostrou-me o lastimável estado em que se encontrava o bairro, sem asfalto, todo esburacado, com valetas e crateras onde poderia caber um caminhão.

Em nosso percurso fiquei surpreendido com duas coisas: o estado do bairro e a popularidade que Ari Artuzi desfrutava. Eu dirigia o meu próprio carro e Ari ao lado acenava para todos, velhos, jovens, crianças, que gritavam o seu nome e o aplaudiam. Percebi claramente que estava diante de um desses fenômenos políticos que vez ou outra surgem, especialmente quando a população sente-se carente de contatos mais diretos com os seus representantes.

Ao final da visita paramos na casa de Artuzi e na mesma varanda onde mais tarde ele foi filmado contando dinheiro recebido ilicitamente, tomamos um café feito pela sua companheira de então, a Maria. Conhecendo pela história a trajetória política de muitos políticos brasileiros do estilo de Ari arrisquei um conselho, disse ao casal que o mundo político era extremamente escorregadio e que ele, com aquela popularidade poderia ter um futuro promissor e se eleger deputado, mas que tomasse cuidado, pois também poderia escorregar para o mundo da corrupção.

De qualquer forma, como líder do prefeito na Câmara, prometi-lhe que recuperaríamos as ruas do Canaã com cascalhamento, mas a contrapartida seria o seu apoio à nossa bancada. Como não era bobo e sabia perfeitamente que seria crucificado pelos seus fiéis eleitores se não agisse em favor de seu Canaã, Ari cumpriu a sua parte durante os dois anos em que permaneceu na Câmara e nós cumprimos a nossa.

Nas eleições para a Assembleia Legislativa em 2002, Ari foi eleito com seis mil e poucos votos e eu nem consegui a suplência embora tivesse auferido do dobro dos votos. Questão de legenda. A partir de então nossa trajetória política foi completamente diversa. Continuei com a postura de político preocupado com projetos, Ari aprofundou-se no clientelismo populista, coisa que já praticara para eleger-se vereador, mas em escala menos significativa.

Creio que nesse momento é que Ari Artuzi começa a cometer o seu suicídio, ou a ser assassinado fisicamente. O clientelismo populista é como que uma bola de neve que se avoluma a cada centímetro que avança. Ari, feito deputado, tinha um salário que só Deus sabe (a nossa Assembleia Legislativa sempre foi uma verdadeira caixa preta) e distribuía benesses a todos os que lhe estendiam a mão.

Certa feita fui representar o prefeito Tetila numa dessas promoções de doação de casa que uma rádio local promove e encontrei Ari no meio da população distribuindo uns trocados para as cervejas aos que lhe pediam. Falei-lhe que ia para o Camarote, cumprir o meu dever de ofício e ele ensinou-me com a sua já avançada sabedoria clientelista que aquilo não dava voto e nem sequer as faixas de apoio que outros políticos estendiam no local do evento eram tão produtivas quanto estar no meio do povo gastando apenas um ou dois mil reais.

De fato a sua popularidade aumentou, tornou-se um político imbatível, mas os seus encargos para com a sua clientela foi proporcional à sua ascensão a ponto de ter que começar a lançar mão de recursos ainda mais ilícitos que aqueles provenientes da Assembleia. Dessa forma, além de atrair a maioria do povo para si atraiu também eminências pardas, empresários gananciosos, políticos ávidos por tirarem proveito da sua gigantesca popularidade. Políticos tão inescrupulosos que negaram até a própria ideologia, suas mais profundas convicções para garantir a eleição de Artuzzi à Prefeitura de Dourados.

Mas a estrutura mental de Ari Artuzi não estava preparada para suportar tal fardo, de um lado os encargos administrativos de um município como Dourados e, por outro, as cobranças que advieram de seus compromissos assumidos com a arrecadação dos fundos para a sua campanha. Perdeu-se completamente e pôs a perder Dourados que sofreu uma ruptura profunda em seu processo de desenvolvimento.

O câncer de Ari, que o levou à morte, em minha opinião de leigo, foi provocado justamente pelo elevado nível de estresse, pela bagunça generalizada de seus neurônios que não suportaram tanta pressão. Se essa minha concepção estiver correta, resta-nos responder à pergunta: Ari Artuzi suicidou-se devido à sua ganância, à sua febre pelo poder ou foi assassinado por aqueles que quiseram se aproveitar de sua popularidade?

Quando conheci Ari ele pareceu-me ser de boa índole apesar de sua pouca formação escolar, mas, como já disse, perdeu-se no labirinto da política. Voltamos à velha discussão proposta por Rousseau de que o homem nasce bom e a sociedade o corompe?

Seja qual for a resposta os danos causados pela sua administração são irreparáveis, mas por outro lado Ari era um ser humano que procurou abraçar muito mais do que cabia em seus braços e por isso sofreu demasiadamente em sua passagem por este mundo.

(Suas críticas são bem vindas: biasotto@biasotto.com.br)

(*) Membro da Academia Douradense de Letras; aposentou-se como professor titular pelo CEUD/UFMS, onde, além do magistério e desenvolvimento de projetos de pesquisas, ocupou cargos de chefia e direção.

 

Plantão/MShoje.com

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