Meio Ambiente03/12/2010
A Amazônia não é o Pulmão do Mundo
Não se sabe quem utilizou esta expressão pela primeira vez, mas o sentido dela é que na Amazônia haveria uma enorme produção de oxigênio, o que na verdade não corresponde a realidade, segundo especialistas. Descobertas cientÃficas demonstram que a floresta amazônica encontra-se em estado de “clÃmax ecológicoâ€: toda a biomassa (o conjunto de matéria viva da região) acaba sendo utilizada por outros organismos para seu metabolismo, produzindo dióxido de carbono. É verdade que a floresta produz uma imensa quantidade de oxigênio mediante a fotossÃntese durante o dia. porém, as plantas superiores e outros organismos associados vivendo nessa mesma floresta respiram 24 por dia, ou seja o oxigênio que a floresta produz acaba sendo utilizado na respiração dela mesma. É importante salientar que a floresta amazônica constitui um enorme reservatório de carbono e, quando queimada, produz dióxido de carbono, aumentando assim o “efeito estufaâ€.
A Amazônia não é o “pulmão do mundo†no sentido comum do termo. No entanto, o sistema florestal da região, alem de evitar a erosão, funciona como uma “esponjaâ€, absorvendo substâncias trazidas pelos ventos e pelas chuvas, sob a forma de poeira e partÃculas, da Ãfrica e do Atlântico. Amazônia não é o 'pulmão do mundo', aponta pesquisador. Na capa de muitos jornais, sites, comunidades virtuais e blogs a Amazônia ainda é encarada como o grande “pulmão do mundoâ€. A idéia de que a floresta seria uma grande purificadora do ar, transformando gás carbônico em oxigênio, já foi desmentida por muitos cientistas, mas ainda sobrevive por aÃ. Apenas em dois textos do Blog da Amazônia, há 16 comentários que tratam a floresta dessa forma.    Â
Apesar de haver muitas provas de que a Amazônia não exerce esse papel, é consenso entre os pesquisadores que as extensas áreas de floresta do Norte do Brasil têm grande influência no clima do planeta. Mesmo não sendo o tal pulmão, a Amazônia ainda seria um órgão vital.Â
Floresta em equilÃbrio    Â
Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e um dos cientistas mais respeitados no mundo quando se fala de aquecimento global, o erro já começa no próprio apelido que se deu à Amazônia: “O pulmão não supre o oxigênio, ele tira.†O pesquisador explica que a floresta está em equilÃbrio. Todo o gás carbônico capturado por meio da fotossÃntese é liberado novamente à atmosfera quando as plantas respiram e quando as árvores morrem e entram em decomposição.    Â
Feranside ressalta, contudo, que o fato de a Amazônia não funcionar como o tal “pulmão do mundo†não significa que ela possa ser destruÃda. O desmatamento de milhões de quilômetros quadrados de floresta poderia desregular o regime de chuvas e acentuar o aquecimento global. Â
CÃrculo vicioso Â
A floresta está em equilÃbrio apenas quando está em pé. Se ocorre uma queimada ou desmate, grandes quantidades de gás carbônico são liberadas na atmosfera, contribuindo para o efeito estufa. Hoje, o Brasil ocupa o quarto lugar entre os maiores emissores de gases que causam esse problema, sendo que cerca de três quartos dessa poluição provêm da destruição da mata. De acordo com Fearnside, o desmatamento é um péssimo negócio para o Brasil. “Além de emitir muito mais carbono do que o combustÃvel fóssil, ele também traz muito pouco benefÃcio para a economia do paÃs, gera muito pouco empregoâ€, avalia.    Â
Com o aquecimento do planeta, a floresta corre o risco de entrar em um cÃrculo vicioso de destruição e emissão de gases de efeito estufa, revela o cientista: “Na medida em que se começa a esquentar na Amazônia, morrem muitas as árvores. Com o aumento da temperatura, as árvores também precisam de mais água, e aà aumentam os problemas de incêndio. Além disso, esquenta-se o solo, que começa a liberar carbono. As grandes secas que houve na Amazônia, como a que aconteceu em 2005, tendem a aumentar.†   Â
Falta de águaÂ
Ainda que o desmatamento e as queimadas não liberassem gases de efeito estufa, a transformação da floresta em pastos ou plantações poderia mudar radicalmente o regime de chuvas. Fearnside explica que grande parte das chuvas do Centro-sul do Brasil são causadas por ventos que trazem vapores da mata no Norte. “Se transformarmos a floresta em pastagens, as chuvas cairão lá (na Amazônia) e irão direto para o oceano. A água não será mais evaporadaâ€, revela.    Â
Além da falta de água potável – problema que já afeta periodicamente a cidade de São Paulo – a diminuição das chuvas também acarretaria na falta de energia. “No Centro-sul há muitas barragens, que geram energia para o Brasil. Essas hidrelétricas enchem em poucas semanas. Se falharem as chuvas nessas semanas crÃticas, as represas não enchem pelo resto do ano.â€, alerta o pesquisador.
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